terça-feira, 24 de agosto de 2010

Fraqueza

Como gostaria de olhar-lhe na face e ter plena certeza do que dizer, do que fazer.
Mas assombro-me pois a cada instante vejo que minhas palavras esvaem-se, tornam-se vazias e sem sentido. Não tenho sentido, não vejo sentido.
Queria tanto poder dizer-lhe o que sinto, o que desejo. Mas realmente perco-me em seus olhos, lábios, língua, hálito, sopro, toque. Sou fraco, miseravelmente fraco, perco minhas convicções assim que pouso meus olhos em ti. Então, peço-lhe, por favor, interprete-me, compreenda-me por mim, pois perdi meu próprio eixo.
Entenda que seus toques não são mais os mesmos para mim, quero-lhe e não quero-lhe, então por favor, livre-se de mim, livre-me de mim.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Sérénité/Serenidad/Serenity/Sereniteit

Você vê todos a sua volta sorrindo, conversando, bebendo.
Em meio a um bar movimentado de subúrbio, de fato, um bar consideravelmente mais organizado e agradável do que se espera.
Sentado em seu próprio e discreto canto, encontra-se a observar, apenas observar. Mas qual outro fim o levaria a sentar em um canto tão afastado?
Via-os tão exaltados, alegres. Em outro canto uma jovem recebia uma cantada, deliciava-se por sentir-se tão desejada, sua vestimenta um pouco vulgar, mas nada em exagero, era somente para deixar-lhe a mostra mais de suas sinuosas curvas.
No bar um homem pede uma bebida, talvez já esteja um pouco alterado, mas nada de realmente perceptível. Lança um rápido olhar a jovem a ser flertada, provavelmente pensa em algo adorável ou talvez um pouco mais erótico, pois balança a cabeça com um leve sorriso nos lábios e leva o copo à boca, toma-a em apenas um gole. Levanta-se lentamente, caminha tanto quando, mas para, faltou-lhe a coragem, volta a sentar.
Pede mais doses, crê que de uma bebida forte, "tomando coragem", é possível que dissesse.
Não era um homem velho, deveria estar nos seus 38, 40 anos, a jovem deveria estar nos seus 20, 23. Romances assim estão comuns atualmente.
Percebe, ele fica perceptivelmente embriagado.
Chegou o momento, ele vai se levantar caminhar até ela, e agir como um... bêbado. Perdeu a chance.
Antes de ver o grande ato e vexame, joga algum dinheiro na mesa, sai pela porta, anda lentamente pela rua, tão movimentada e barulhenta, mas não é algo que te incomoda mais, então tira o molho de chaves do bolso e coloca na fechadura.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Uma hora

Creio eu que haviam se passado dez anos, mas insistem em dizer-me que havia se passado apenas uma hora.
Não fez sentido, não faz o menor sentido, como pôde a dor que se estendia para além do que eu poderia suportar ter durado apenas uma mísera hora?
Em uma hora eu derramei tamanha quantidade de lágrimas?
Em uma hora eu fora tão estraçalhado?
Em uma hora eu envelheci tão tremendamente que posso ver meus próprios fios brancos? Se sobressaindo em minha longa barba e cabelos?
Em uma hora meu coração ter parado e retornado a bater tantas vezes?
Não há como eu ter mudado, sofrido, em apenas uma hora.
Digam-me a verdade! Sofri por tanto tempo que esqueci-me de viver, me assustará, de fato. Mas por favor, não digam que fora em apenas uma hora. Em uma hora meu eu não pode ter se esvaído, quero ter lutado por um longo tempo por ele, não apenas uma hora.
E o que é uma hora? 60 minutos? 3600 segundos?
É tão pouco tempo... mas dizem que 1 segundo faz diferença, que toda uma vida pode mudar. Então tenho que contentar-me em ter minha vida mudada em uma hora?
Pareço tão insignificante se penso assim. Adeus, meu eu.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Espécie

Sou uma criatura abominável, falsa, hipócrita.
Ofendo minha própria espécie.
Minha espécie... aquela que aniquila, humilha, maltrata, ofende, tudo o que é vivo.
haha
Espécie a minha que vem a me decepcionar e é constantemente ofendida por mim, sou talvez um traidor. Mas queria poder dizer que acima estou deles, de todos eles...
Mas sou igual, apenas mais um dentre todos.
Vejo-os nas ruas a vagar, olhar e pedir, mas jamais dei-me ao trabalho de tentar mudar, ajudar, socorrer. Minha alma deixou de ser pura, manchou-se, corrompeu-se.
Sou agora mais um deles. Tornei-me um dos que vagam, sem rumo, esperança.
Minha esperança se foi junto com todos aqueles que morreram por aquelas malditas explosões. Desprezo-me. Desprezo-me cada vez mais por ser tão insignificante por apenas deixar jorrar de minha boca palavras que não farão diferença alguma, que eu não faço diferença alguma, eu não tento fazer.
E agora novamente volto ao meu principio de dizer palavras sem razão e que não mudarão nada, absolutamente nada. Meu mundo se vai, muda e se destrói, e eu continuo aqui a dizer apenas palavras bonitas. Eu sou agora parte da minha espécie.