quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Maybe one day

Olhava para si, o ser do espelho era o que havia se tornado? Nada mais de ilusões sobre peças bonitas e luzes brilhantes? Os raios de sol que atravessam a janela não são mais os mesmos, são diferentes, frios e pouco aconchegantes, só avisam que um novo dia começou. Uma nova desilusão, uma nova caçada, um sonho despedaço do que parecia ser real. As lágrimas que os olhos do espelho mostram, são verdadeiras? Pois seu rosto continua seco. Lágrimas não caem mais por seus olhos, perderam a razão de existir, a muito tempo atrás. A razão do choro soluçado do outro lado também é desconhecido, mas parece tão encantador, que quase o causa algum sentimento novamente, como se a luz pudesse voltar a emanar calor. Mas o motivo dos gritos desesperados continuam ocultos. Talvez, ocultos até do seu coração, a razão deve ter espinhos afiados demais.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Pedaço da torta

Somos parte disso, de todo esse conjunto de moléculas e átomos que compõem o que achamos que conhecemos. Somos isso, somos parte, somos vivos e existimos. Existimos? Isso não importa, não mais, fechei meu corpo para o mundo e ele insiste em entrar. Na verdade é uma insistência tão abrupta que chega a ser dolorosa. Quero ser novamente o muro que costumava ser, deixe-me assim! Quero ser depósitos de pensamento, pensamentos acumulados ano após ano, dia após dia, um emaranhado de respostas inconclusivas que fazem dessa realidade atômica um pouco mais aceitável. Minhas verdades inconclusivas, suas verdades inconclusivas, nossas verdades, nossa variedade, nossa espécie, nossa humanidade desumana. Nossos fins desprovidos de sentimento, perdão, culpa, nossa morte desumana, nossa matança desumana, nossa pena desgarrada e falsa. Apenas lágrimas que saltam dos olhos pelo que acreditamos ser sentimento, mas na verdade é só exposição egoísta por não estar na situação, choro de alívio, não de tristeza. Nossas próprias respostas inconclusivas da nossa realidade irrealista desprovida de humanidade e recoberta de tristeza. Somos parte disso, parte da realidade matemática, física e química, que acreditamos estar por cima e nada do que faremos terá resposta alguma do que já falamos repetidas vezes. Somos apenas um pedaço e não o todo, somos parte disso.

terça-feira, 30 de abril de 2013

Não se afogue.

Passou a viver num mundo de sonhos, perdido em seus próprios braços, de quê? De aço. Enclausurado em seu abraço eterno, perdido em seu mundo de sonhos. Não o julgue, não o queira, não o abrace. Olhe-o, encare-o, sinta-o, inveje-o, mas apenas isso. Não se aproxime, não o cheiro ou beije. Apenas observe-o, afogado em seus próprios sonhos, em sua própria euforia, euforia. Sorrisos, delicie-se com os dele, aprenda com ele a sorrir, pois com o seu sorriso, sorrirá também, mas nada mais. Não se engane, não se perca, não se esqueça, apenas um mundo de sonhos. Não fique fascinado demais e se afogue em sonhos de outrem, não se afogue.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Y.

Se abrisse os olhos, estava ciente do que iria encontrar, então proibiu-se a abri-los e encarar o que estava parado bem a sua frente. Não gostaria de saber, sem mais desculpas ou mascaras a que se apoiar. Então, parou e apenas permaneceu com os olhos fechados, seus pensamentos davam voltas e mais voltas no mesmo raciocínio, o que já o irritava e lhe dava vontade de disparar um tiro contra o próprio crânio, para não ter a necessidade de ter mais uma vez a conclusão, a tão terrível conclusão. "Nego-me a me ouvir, nego-me a enxergar. Estarei para sempre perdido na escuridão da ignorância, enquanto isso me poupar da realidade", repetia para si, como uma natural oração que fluía, para desviar e expulsar os pensamentos, para impedir e expulsar a realidade, o temeroso, o inconsciente... A sua vida.

quinta-feira, 21 de março de 2013

E.

Enquanto ela falava, a voz ecoava em seus ouvidos e ele não conseguia prestar atenção em coisa alguma. Sua mente estava em outro lugar, tentando acolher-se em um universo paralelo em que coisas como aquela não tinham importância. A imagem continuava a atormentá-lo. A imagem de dor e desespero mesclados, demonstrados em um único gesto, como se tudo fosse uma carga demasiada pesada para carregar sobre os ombros e teria de apoiar-se em seu joelhos, curvando-se diante de alguém que receberia a noticia pasmo e a mão viria sobre a boca como para impedir o grito que se seguiria. Imagem que se eternizara em seu ser, estaria cravada em sua alma e mudara para sempre sua existência, ninguém mais seria o mesmo, ninguém.