quarta-feira, 8 de abril de 2009

Quarta parte.

A pálida luz que entrava através da janela naquela manhã, incomodou os olhos de Peter, forçando-o a acordar. O aposento estava bem iluminado, as cortinas pesadas, não estavam sobre a janela como eram seus lugares habituais, o dia estava nublado. A cama macia e aconchegante fazia com que seu despertar se prolongasse, os detalhes do quarto, estavam mais chamativos para ele, o ornamento da cama, que era de uma madeira de cor escura faziam um belíssimo contraste com as cortinas vermelhas, até mesmo os quadros na parede continham tais tons.

Passado mais alguns minutos observando, Peter enfim percebeu que encontravá-se despido sob as cobertas, e como uma onda, recobrou as lembranças confusas da noite anterior.

Como arrependia-se imensamente de ter tratado de maneira tão brusca Joseph, seu querido amigo. O cartão veio-lhe logo depois a mente. Onde estariam suas roupas?  Como chegara em casa? Não deveria ter se afogado? Por que razão estava sem suas roupas?
Em sua consciência lembrara-se do leve toque dentro da água, a sensação de seus pulmões enchendo-se de ar, do roçar de cabelos sedosos e molhados em seu rosto.

Seu olhar vagou por todo o aposento a procura de suas vestimentas, quando enfim as avistou jogadas em um canto, levantou-se subitamente e foi ao alcance de tais.

Remecheu-as a procura do cartão, estava no bolso de seu casaco, a umidade que as roupas ainda continham, fizeram com que ficasse quase ilegível. Peter o deixaria secar depois tentaria lê-lo.

Apesar das costelas doloridas e do ardor das narinas ele pensara que estava bem, e vivo consequentemente. Como alegrava-lhe respirar e ainda poder vagar sobre a terra, noites antes do incidente refletira detalhadamente sobre a morte, ou acreditara que o tinha feito. Mas como estava absorto em descobrir-se um covarde, temia com tamanha intensidade a morte, via vários homens fraquejarem diante de tal, mas não entendera o motivo. Diante dela seus medos vieram à tona, suas dúvidas se sobressaíram.
O que haveria então depois do terrível fim? Apenas o esquecimento, o corpo apodrecendo, como sendo o ultimo vestígio de que se lembrariam?
Não poderia acabar assim, como o angustiava pensar tais barbaridades, a morte sendo o simples esquecimento e escuridão eternos, ou qualquer outra crença que tivessem, como torturavá-o tais pensamentos.
Queria livrar-se da dor que trazia consigo, mas tudo era assustador, não queria morrer, não gostaria de esquecer-se, perder-se na escuridão. A vida não trazia consigo o menor sentido ou razão. Era-lhe um tortuoso caminho que chegaria a um fim que todos esperamos, mas que tememos. Como afinal tudo era hipócrita. Amara a vida intensamente depois simplesmente morrera, por acabar sem vivê-la por todo completo e sem achar uma solução para a morte.

Mas o sofrimento era-lhe demasiado forte para seu coração agüentar, seu cérebro acompanhar, por demais espinhoso, a verdade esmagavá-lhe as entranhas.

 

sábado, 4 de abril de 2009

Terceira parte.

Sua visão fora afetada, encontrava-se aturdido. Os detalhes lhe escapavam, o lugar era estranho. O chão desgastado, as construções de pedra, faziam com que seus passos ecoassem, assustando-o constantemente. Ele sabia que se aproximava da encosta, conseguia ouvir o som da água contra as rochas.
O vento cegavá-o, as gotas que caíam da imensidão acinzentada, faziam extremo barulho ao alcançar o chão. A rua estava escura e deserta, nenhuma pessoa prosseguia por tal caminho, apenas ele, o estranho, que gostaria de desaparecer, tornar-se inexistente.
Sua dor tornara-se maior, piorara através do tempo por culpa de seus tolos pensamentos, as memorias que tentara recordar, não foram suficientes para afugentá-los.
A paz que tanto desejava encontrava-se no rio, de alguma forma, ao se aproximar a cada passo, descobrira tal sentimento. A umidade contida no ar tornavá-o mais sufocante.
Suas narinas ardiam, os olhos encontravam-se irritados por conta do vento e da chuva. Encomodos como estes eram ignorados, conseguira avistar as ondas. Ideias rodeavam sua cabeça, o frio toque da água em contato com seu corpo, o deixaria são. Peter não se desligava de tamanha sensação, aproximara-se do beiral, tinha uma melhor visão, a cor do fino véu era escura, pálida, mas estava inebriante aquele lugar.
A inclinação de seu ser, fez com que deslizasse e caisse de encontro ao manto aveludado. Perdera-se em novos e velhos pensamentos, conclusões foram resultadas no mesmo instante. Finalmente sentira-o, o impacto contra a água, o impolgante frio que o envolvera e o sabor dela, diretamente em contato com sua lingua.
Seus pelos se erissaram, o encontro o aturdira, ele não conseguia emergir, encontraria enfim a calma.
Não sobrara mais ar em seus pulmões, a lucidez lhe escapava por entre os dedos, poderia senti-la se esvaindo, em determinado momento a escuridão o tomara. Encontrava-se preso em sua mente confusa, as luzes coloridas eram vistas de repente, os contornos fracos de rostos, o leve formato do cartão também fora lembrado.