quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Espera

Ilhado, é uma boa definição.
Estou aqui novamente, esperando os ventos trazerem minha dignidade, minha identidade. Enquanto isto, espero sentado. Eu sei, não deveria ficar parado, mas estou sem forças ultimamente. Acordei devastado por mim mesmo, escrevi milhares de carta para lhe mandar. Mas todas, inclusive a que considerei, tornaram-se bolinhas de papel que estão no meu campo de visão, do lado da escrivaninha. Não as joguei no lixo, estava coberto por elas, banhado em sentimentos para pensar sobre isso.
Não as enviarei, saiba disto.
Disse-me isto uma vez,que eu adoro demasiadamente o sofrimento, acho que foi um dos grandes motivos para afastar-nos, mas, não lembro-me direito.
Mas agora, sem nenhum calor momentâneo, posso dizer-lhe que estava certa, completamente. Abaixo minha cabeça diante de ti, para explicar-lhe humildemente o que me motiva a adorar algo tão desastroso.
Na tristeza encontro a razão, e a razão, faz-me pensar sobre tudo aquilo em que eu deveria refletir, encontro no sofrimento a inspiração que necessito.
Sou influenciado de varias formas, não ache isto uma falha de caráter, por favor.
O mundo, a cultura me influenciam, de uma forma benéfica, porém, as pessoas, exercem em mim um tipo de influencia que pode tornar-se maligna.
Sou resultado de todos os fatores que me rodeiam, sei que as pessoas são necessárias, mas por enquanto, quero apenas esperar. Esperar para ver se algum dia, poderei tornar-me algo que não sofre tanto com esta influencia.

Peter.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

His

Hoje, diferente de ontem, ele entrara calmamente pela sala.
Passado pelo corredor pequeno e estreito, mas certamente assustador, os quadros de família a encarar-lhe, como se soubessem de tudo que se passara durante a noite, de todo o infortúnio.
Entrara no seu quarto, tudo encontrava-se exatamente como havia deixado mais cedo, a cama por fazer, as roupas espalhadas pelo chão, a unica alteração, era em si, as luzes que era obrigado a acender, a luz amarelada enchia o aposento, dava um ar realmente sombrio, mas pensava que talvez fosse ele que estava com o terror em mente, e não importava onde fosse ou o que fizesse, continuaria com medo, horror, quem sabe.
Deitou-se queria apenas apagar, os remédios para dormir deveriam estar na mesinha, do lado, do lado de quê? Por favor, que conseguisse se lembrar.
Oh claro! Do lado da garrafa de whisky, poderia aliviar a tensão com os dois. Talvez, simular uma linda overdose.
Olhava vagamente para o frasco com os comprimidos e furtivamente lançava olhares ao whisky, a ideia parecia-lhe tentadora.
Maldição, nada poderia fazê-lo esquecer-se? Nada?
O sabor, o cheiro... Era tudo demasiadamente agradável, mas tão demoníaco. Talvez uma história lhe acalmasse, seu livro predileto, onde estava?
Não, esse livro não,o fazia se lembrar de sua noite, e ele não podia lembrar-se.
Exausto, exausto de mais, os comprimidos talvez fazendo efeito, sua mente estava processando devagar agora, cairia inconsciente logo. A cama lhe pareceu confortável, então veio a escuridão e ele já não era ele.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Au revoir

“Ato consciente de aniquilação auto-induzida, melhor entendido como uma enfermidade multidimensional em um indivíduo carente que define uma questão para a qual o ato é percebido como a melhor solução."
Hoje é como se fosse o fim, as coisas nunca foram tão não importantes, é como se tudo que se acreditasse esfarelasse. Sou de fato um ser perturbado e problemático. É incompreensível, eu sei.
Devo ser egoísta demais para me importar com outros. Sou uma farsa.
Minha identidade falsa esvai-se diante de meus olhos e aquela sensação de esgotamento se espalha por cada célula do meu corpo.
Sou demasiadamente raso para intimidar ou interessar alguém. As pessoas não se importam, não me vêem. Estou a um passo de mudar de casa, queria algo confortável e familiar, mas acredito que jamais será assim, não sou disso.
Trancarei-me nessa nova casa, mas dessa vez não quererei sair, eu sempre soube disso.
Não precisarei de janelas ou portas, na verdade, não as quero. A luz do exterior me cegará e fará com que eu sinta muita dor.
Sou agora apenas um fantasma que vaga diante de todos, mas as pessoas estão ocupadas demais para perceberem isto. Acho que chegou ao fim, o momento de despedir-me de fato e de uma vez, para sempre.
P.E.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Abdicação

E permanecia parado, sentindo as gotas caírem em sua face como estacas pontiagudas a perfurar cada milímetro do seu corpo...
Mas mesmo que tudo não passasse de uma demanda suicida, ele sabia que esta dor era menor que a outra.
Mascarando o sentimento que o preenchia, que o consumia.
Tudo voltava-se para ela, facetas de arrancar-lhe arrepios, pele alva e lisa, cabelos de ébano que emolduravam o rosto simetricamente perfeito, a imagem não o abandonavá-o, não abandonavá-o.