domingo, 15 de fevereiro de 2009

Segunda Parte.

Caminhando lentamente Peter consegue enfim sair do aposento. Seguindo furtivamente para o segundo andar da imensa residência, o chão de uma madeira escura e lubrificada, as paredes seguiam o mesmo padrão de palidez. Os quadros que pendiam nas paredes pareciam entristecer o andar, no canto escuro do estreito corredor uma pequena mesa, sobre a qual descançava um velho vaso de flores, o único sinal de vida do ambiente.
No fim do corredor Peter encontra finalmente a porta de orvaho escura e grossa, da qual se lembrava tão bem. Indo adiante esquecendo-se de seus bons modos, desliza através da porta e entra na biblioteca.
As estantes continuavam abarrotadas de livros antigos, a pouca iluminação dava a ela um aspecto sombrio.
A escrivaninha ao canto encontrava-se coberta de pápeis rabiscados. Ele lia cada pedaço de papel com uma certa aflição no olhar, procurando por algo em especial entre tantos versos, cartas, cartões e convites.
Até que, enfim, com um ar de calmaria ele encontra entre os diversos pertences o que tanto procurava.
Com os olhos flamejados, ele finalmente levanta seu olhar e observa a comum figura que estava a sua frente. O absoluto silêncio é quebrado por apenas um suspiro baixo e rouco:
_Então, aí estava. Estava o escondendo de mim não?_com a voz afetada pela estranha emoção de alivio.
_Claro que não, meu caro. Minha cabeça anda tão cheia de compromissos que havia me esquecido de onde colocara este velho cartão. Não queria dar-lhe esperanças se não o sabia. O cartão que tanto procurara. _ a calma em sua voz teria sido de tamanha perfeição, se não fosse o leve tremor de seu suspiro.
_Cheia de compromissos?! haha. Não seja tolo Joseph. Não vou mais cair em suas velhas blasfemias, o conheço tempo suficiente.
_Não mentiria para você, Peter. Me ouça, por favor.
_Creio que não o faria. Mas o fez e, escutei-o tempo demais. Sabia o quanto eu procurara, era meu confidente, sabia de tudo que se passava, da minha angústia e sofrimento.
_Eu os sabia, foram esses os motivos que me fizeram escondê-lo de ti. Pelo que grande apreço que sinto por você, por nossos anos de amizades.
_Não devia tê-lo feito, o meu afeto sucumbiu, pode ser passageiro, mas confiar em ti, não saberei dizer nesse instante.
Retirando-se da biblioteca, em seu último vislumbre do rosto de seu companheiro, Peter o vê inerte, os olhos fixos no lugar onde estivera segundos atrás.
Novamente na chuva, que agora não passava de um simples chuvisco, tentou sair o mais rápido da frente da casa.
Quando finalmente saiu da vista da residência, Peter começou a caminhar calmamente.
Os únicos sons na noite eram o de seus passos e o do martelar de seu coração. Sentia uma imensa aflição que tirava-lhe toda a atenção, não sabia exatamente para onde seguia ou qual caminho havia pegado para tal destino. Em sua mente retornava inumeras vezes a conversa a pouco, não entendia os reais motivos do amigo de esconder-lhe o cartão que durante tanto tempo procurou.
Sua cabeça latejava, sentia-se estranho e dilacerado pela atual decepção.

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